O carnaval 2018 trouxe um viés até então inimaginável, que é o uso da festa mais popular do país para protestar contra um Brasil que parte significativa dos brasileiros não quer mais. Protestos isolados sempre ocorreram, mas protestos em praticamente todo o país e principalmente na apoteose do carnaval, que é a Rua Marques de Sapucaí (sambódromo), no Rio de Janeiro, através de várias escolas de samba e do público presente é inédito.
É histórico o fato do brasileiro ter o hábito de sempre optar pela improvisação, por deixar tudo para a última hora e sempre acreditar que existe um “jeitinho”. Dentre tantas temos ainda a lei de “Gerson” que é leva vantagem em tudo, tanto que levou o escritor e jornalista Gilberto Dimenstein a afirmar que “o Brasil é uma nação de espertos que reunidos formam uma multidão de idiotas”.
Do campo popular terminou por contaminar a política, o judiciário, igrejas, associações, cooperativas, federações, clubes esportivos e etc. Daí vem a transgressão para benefício próprio, vem a corrupção e tudo se tornou em uma forma de ser do brasileiro. Mas já é possível perceber uma exaustão por parte desta sociedade.
O que chama a atenção é que não houve uma organização para que isso ocorresse. Não foi partido político, nem central sindical ou federação patrocinando. Quem foi para protestar foi pensando ser o único e chegado a quarta-feira de cinzas descobre que o mesmo ocorreu com um percentual significativo de grupos, blocos, escolas de samba ou simplesmente com indivíduos protestando. Em função disso não há um único direcionamento. O que assistimos foi pura indignação.
Tanto é verdade que apesar da dispersão de temas no geral, os protestos tiveram como unanimidade a falta de transparência e o nojo ao privilégio em forma de “penduricalhos” e a falta de transparência com o dinheiro público. Seja Temer, Seja Lula, seja Moro.
É hora de alguém começar a fazer a mudança de comportamento. O brasileiro não quer mais ouvir: auxílio moradia, paletó, combustível, gabinete, saúde, educação, alimentação, dentista, cultura, farmácia, passagem aérea... Uma vez que as pessoas que pagam esses “privilégios” não os tem.
Dignidade é diferente de esmolas. Logo podemos também buscar algo mais justo, chega de “meias entradas” com o dinheiro do pagante, de “passagens gratuitas” com o valor acrescentado na passagem do passageiro pagante, do “passe gratuito” as custas do operário assalariado, das aposentadorias diferenciadas entre o trabalho público e privado, das aposentadorias especiais com valores exorbitantes as pessoas que já tem salários privilegiados e ainda pagos as custas de trabalhadores que irão aposentar com o salário mínimo.
Há um brasileiro que quer um Brasil diferente. Mas querer ainda é pouco. Precisamos praticar esse Brasil que desejamos. Já é hora do time dos brasileiros da “correção” superar o time dos brasileiros “espertos”. O carnaval mostrou que há um Brasil que muitos brasileiros não querem mais.
*JOÃO EDISOM é Analista Político, Professor Universitário em Mato Grosso e colaborador do HiperNotícias.
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