Há dois anos, eu saí de casa.
Saí da casa da minha mãe pra construir o meu lar.
Meu Deus, que frio na barriga!
Um milhão de sentimentos misturados nesse turbilhão que é crescer.
Dizem que lar é onde seu coração está.
E, por diversas vezes, em cada briga que eu e meu namorado tínhamos,
eu pensava em voltar para debaixo do teto de quem me criou.
Para o meu recanto seguro, meu quarto cor de rosa
Mal sabia eu que meu coração já não pertencia mais àquele lugar.
Já tinha escolhido outra morada.
Meu peito tinha feito lar em outro peito.
Achei meu lugar no mundo de outro alguém.
Quando eu era pequena, vi meus pais se separando.
E tomei como verdade que casamento era algo ruim.
Passei a adolescência toda fugindo de quem gostasse de mim.
Não acreditava que um amor poderia durar.
Até que eu descobri que a bruxa má era eu mesma.
Passei de princesa abandonada na torre para a própria arquiteta da torre.
Tudo para me manter longe o suficiente de quem me quisesse bem.
Mas descobri a tempo!
Enfim, apareceu um ogro incrível.
Que derrubou a torre e mandou essa minha mania de afastamento pra bem longe.
Um ogro que não teve medo de encarar meus dragões mais feios.
Um ogro que me salvou de mim mesma!
E foi com ele que eu abandonei meu refúgio pra construir nosso lar.
É com ele que construo diariamente nossas vidas.
Ao lado dele, fico mais forte porque ele me mostrou que eu sou capaz de qualquer coisa.
E é no peito dele que o meu coração encontrou um lar.
Mirella Carvalho tem a estranha mania de ver tudo como num conto de fadas; ela acredita que, desta maneira, tudo fica mais sutil, menos pesado. E assim ela prefere levar a vida.
