O rebaixamento era esperado?
Era. A situação fiscal do Brasil simplesmente não teve nenhuma melhora (desde que Temer assumiu). Teve até uma piora. Tendo em vista que veio da S&P, a agência com avaliação mais técnica, essa é uma avaliação bastante negativa da equipe econômica que todo mundo esperava que fizesse tanto pelas contas públicas.
O governo estava concentrado em fazer reformas que precisavam do Legislativo. No Executivo, acabou fazendo pouco do ponto de vista fiscal?
O governo poderia ter feito muito mais. No meio das discussões do teto dos gastos, em 2016, alertei para isso. Disse que o teto dos gastos não tinha nenhum tipo de sustentação sem a reforma da Previdência. Afirmei que a reforma da Previdência era uma coisa muito difícil de se fazer, sobretudo por um governo cercado de dúvidas na parte política. A estratégia do governo foi fazer uma imensa propaganda em cima das reformas de médio prazo sem que elas tivessem saído do papel - a da Previdência em particular - e ao mesmo tempo não dando atenção ao curto prazo, inclusive piorando, porque a operação "Salva Temer" levou a uma piora considerável da situação fiscal. Isso, inevitavelmente, ia levar alguém a dar uma nota baixa para o Brasil no quesito arrumação das contas públicas.
O que poderia ter sido feito?
Para início de conversa, a reversão das desonerações da Dilma, que tanto o Meirelles quanto o Temer já entraram no governo dizendo que não iam fazer. É incompreensível que um governo que se vendeu como alguém que vinha para consertar as besteiras que o governo anterior havia feito tenha descartado a reversão das desonerações como uma medida urgente e necessária, inclusive para fazer jus à narrativa que eles estavam plantando junto à imprensa e aos analistas de mercado. Todo mundo comprou isso. Todo mundo achou legal e chamou de "dream team" (time dos sonhos). A verdade é que pouco desfizeram o legado da Dilma na área fiscal.
O que Temer ainda pode fazer?
Nada. Esse governo está em final de mandato, prestes a encarar uma campanha presidencial que será extremamente tensa e barulhenta. Não há cabeça nenhuma no Congresso ou em qualquer outro lugar voltada para uma preocupação com o País, haja vista as ambições presidenciais do nosso próprio ministro da Fazenda. Não é hora do ministro estar fazendo reuniões como potencial candidato presidencial tendo em vista os problemas que não resolveu. No entanto, essa é a situação que temos: um ministro em campanha presidencial e um Congresso que não está interessado em discutir reforma.
A tendência é que as outras agências também rebaixem a nota?
As agências têm um calendário próprio. Mas é algo meio inevitável, porque a situação fiscal do País é insustentável. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Com Agência Estado)
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